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... ao contrário do nheengaíba que um dia foi o malvado guerrilheiro de emboscada armado de zarabatana feita de braço de paxiúba e setas de talo de patauá envenenadas de curabi contra a invasão da ilha, o viajante que passa ao largo a bordo de barco regatão vê a floresta, mas não encherga a árvore onde a jararaca esconde o mistério da morte. Muito menos esse forasteiro dá com a vista ao pobre ribeirinho a pescar camarões com matapi na beira, na boca do igarapé Mata Fome. O nome já diz tudo da precisão do homem que o batizou. Quanto mais - quem dera! - ele avistasse a vila que nem vila era e o sítio Terras-Caídas na terceira margem do rio Curralpanema: lugar que não existe no mapa. Antão, havera o tal viajante da paisagem invisível de ver, paresque, Vilarana surgir cheia de graça detrás da ponta do estirão dentre as sombras do açaizal na varja. O trapiche ao lado do estaleiro do Ponto Certo, o Fim do Mundo, a igreja e a intendência perto da cadeia; as três ruas coalhadas de pirralhos de canela tuíra, vacas, cavalos, porcos e cachorros... Pelas beiradas canta a saracura, "três potes, três potes, três potes... quebraram um, quebraram um"... Comadre Didi cabelo pixaim as mãos negras ligeiras tecendo paneiro como se faz uma lenda de talas de miriti e fantasia, sentada ao assoalho de juçaras em riba de troncos da barraca em palafita, dizendo ela ao compadre Manduquinha "sô homem, as águas já quebraram, saracura tá cantando...". O companheiro entendeu o que a mulher lhe queria dizer diretamente: tempo de tapagem de igarapé para dar o de comer aos barrigudinhos zolhudos. O caboco olhou ao velho pari ao canto da varanda, carecia esperar maré secar para ir ao mato tirar jupati e cipó... O tempo pintava o céu de cinzento, era chuva na certa. A gente do sítio via passar navio longe do Fim do Mundo, mas porém o pessoal de bordo não estava nem aí.
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